quinta-feira, 26 de julho de 2012

Redes! Teus dados são utilizados!


Achei bem instrutivo, O "Monitor das Fraudes" (que surgiu como idéia de alguns rotarianos. De início era hospedada em um portal do Rotary). Trata dos mais diversos tipos de fraudes. Inclui um conjunto sob o títuloNegócios furados e perda de tempo”.

A internet é a mais impactante rede que conhecemos. Trouxe facilidades à existência de outras, e a uma série de atividades: Home office, (outro blog),  redes sociais, propaganda, fraudes, vendas diretas, como exemplos.

Outra tendência que se confirma é cada vez mais haver meios de informação e comunicação gratuitos. Isto em troca de fornecermos ou de serem captados dados pessoais, até gostos pessoais, que orientam campanhas publicitárias. Interessante artigo sobre este assunto.  Final do artigo sobre entrevista:

"[...] Também deveríamos ter mais controle sobre o que é feito com nossas informações pessoais. Elas são valiosas. Quando acessamos um serviço teoricamente gratuito, como o Gmail ou o Facebook, na verdade estamos pagando com nossos dados, que têm um valor de mercado. Essas informações ajudam a construir filtros de conteúdo ainda mais elaborados, usados para vender publicidade. Não sabemos o preço que estamos pagando para acessar um site gratuito, mas as empresas sabem."

Outra facilidade que a internet trouxe: Vendas diretas através de lojas virtuais, com que tradicionais empresas proporcionam comodidade. Nem todas de fabricantes, inovando-se também os tradicionais canais de distribuição.

Beneficiam-se também outras atividades tradicionais, como vendas diretas com entregas a domicílio. Dentre estas, o segmento que pratica o MMN ou marketing de rede, e representa em torno de 1% do total.

Exploro o exemplo de MMN (marketing multi nível, MLM multi level marketing em ingles, ou marketing de rede ou ainda outras denominações), pela similaridade com esquemas fraudulentos, nos efeitos finais.

É um segmento legalizado como venda direta, ainda que na prática atuem em mais do que vendas diretas. De modo geral é um ambiente onde costuma haver desvirtuamentos, exageros, em função de uma cultura materialista e exploradora. Minha motivação é devido a uns dez anos passados ter analisado vários destes planos, sem aderir, e agora ter visto referencia ao assunto no inicialmente mencionado site. Bem como outras divulgações na internet. 

Evidente que falo dum sistema, e nada tem a ver com pessoas que na boa fé buscam fonte de renda, como em qualquer outro negócio. E estão longe dos centros de poder e decisão. Embora existam empresas tradicionais no ramo, nada muda no enfoque. O fato é que os riscos neste tipo de negócio recaem desproporcionalmente sobre os distribuidores autônomos. Este é o aspecto relevante na abordagem.

Encontrei neste artigo, em inglês e outra versão em alemão, crítica incisiva e fundamentada, ao MMN, ou marketing de rede.

Adapto, extraindo conceitos, para servir como elementos de análise. Para examinadores,  e para quem já está atuante, como sinalizador de áreas críticas.

Vejamos alguns destes aspectos, para ao final percebermos como na internet muitas destas ações são facilitadas.

I – Entre o ilegal e o legal, tênues diferenças.

Cinco maneiras de saber se é legítimo ou não determinado sistema de vendas em níveis, constam neste artigo.

Sobre o que é piramide veja este link sobre o assunto.

Na ilustração, auto explicativa, é legal quando compras de distribuidores se destinam, alem de consumo próprio, a vendas para não membros. Lembrando que nem tudo o que é legal é adequado.     (Clique na imagem)



Sendo legais, qual é o problema então?
Porque a proposta é ruinosa, perdedora?
Como acontecem transferências de renda dos perdedores, a poucos ganhadores?
Claro que há boas empresas de vendas diretas, com estruturas mais enxutas, sem praticarem esta forma de negócios.

II – Falha estrutural.

Este é o motivo fundamental do prejuízo de muitos, para ganho de bem poucos:

Demanda limitada, e ilimitado recrutamento de distribuidores, em progressão geométrica.
(Ainda que com novos produtos, novos mercados, o princípio é o mesmo)

Demanda.
“Todo mundo vai querer ou precisar tal produto”. Errado, não existe mercado ilimitado. Nem todos querem participar de tal clube de compras, ou comprar ouro, etc. A um determinado preço e qualidade dum produto, corresponde uma demanda. Alguns preferirão similar mais barato, outros mais caro, por status. Demanda é limitada, fatia de mercado é limitada. A um preço de cem, somente quantidade determinada é vendida. Empresas em geral, levam isto seriamente em conta. No MMN ninguém liga para isto. A realidade é que o produto pode ser bom, mas a demanda será forçosamente limitada.

Se o produto é tão bom, porque precisa de um canal de distribuição diferente? Ele seria  muito bem vendido através dos canais de distribuição convencionais.
Para quem compra o produto, o que justifica estar pagando comissões a quem vende, e mais outras 5 ou 6 pessoas (os que ganham em cada nível), como acontece no MMN? O que estas contribuem para que o produto chegue da fábrica até o consumidor? Nada. Ganham por terem sucessivamente recrutado uns aos outros.

O produto em geral não é o motivo de adesão. Se vender fosse motivação, já estaria vendendo produtos. No geral há inexperiência em vendas e a motivação é ganhar através de recrutamentos.

Distribuidores.
Empresas em geral cuidam em não contratar pessoas demais, super expandir, ou inundar, super abastecer o mercado. Planejam a produção conforme demanda estimada, de modo a manter a credibilidade junto a distribuidores, lojas e público. E dimensionam a equipe de vendas de acordo.

Exemplo franquias.
Pensando que todo mundo precisa comer, nenhum franqueador iria colocar digamos 4 lojas franqueadas num mesmo shopping ou quarteirão. Ao contrário, costumam dar garantias contratuais para proteção da área, reserva de mercado.
Já em MMN, não há este cuidado! O equilíbrio entre a demanda e a oferta se dá a custas de perdedores. Onde está o controle numa MMN  para dizer quando número suficiente de pessoas estão contratadas? Não há. Em algum ponto haverá distribuidores em demasia.

Proposta perdedora:
Demanda limitada e recrutamento em progressão geométrica. Conhecendo este detalhe uma pessoa racional iria se engajar em vender produtos ou serviços, sabendo que há uma “agenda aberta” para recrutar sem limites novos vendedores para os mesmos produtos e área, ou possíveis clientes?
Isto seria boa oportunidade, ou desastre coletivo?

O que sustenta o sistema é o último nível. O sistema quando consegue manter-se é pela alta rotatividade nas bases. O último nível, o dos mais recentemente chegados. E neste nível da base, há constante rotatividade. Como em porta giratória, sai um entra outro.

Em torno de 90% fracassam e abandonam em mais ou menos um ano. O dinheiro dos ganhos para poucos no topo da pirâmide, seja qual for o produto, vem da base da pirâmide.  Da base, onde estão os ~90% ou mais de distribuidores, que compram no mínimo um lote experimental, e estão os que perdem seus investimentos. Comentários sobre estatísticas nesta página do já mencionado Monitor.

Mesmo que possa devolver o produto com maior ou menor burocracia, haverá prejuízos. Terá gasto em telefone, internet, propaganda, deslocamentos para visitar prospectos, ir a reuniões, participar de seminários, materiais para motivação, e outros itens. Em suma, perda tempo e dinheiro para vender sonhos.

III – Algumas características:

Sobre conquistar confiança e cativar novos interessados, veja em várias matérias neste site de crítica.
Outro site de críticas, em espanhol, aqui.

A motivação em MMN é a oportunidade de negócio, mais do que vender produtos. É pouca a importância relativa dos produtos. Esta forma de negócios costuma atrair pessoas em busca de fontes alternativas de renda, como autônomo e empreendedor.
Sobretudo atraente é a idéia de renda residual, ou passiva. Em si, interessante e válida, mas da maneira como é aplicada, constata-se ilusória.

Em qualquer empresa há uma dinâmica social, que objetiva melhorar a produtividade.
Também há treinamentos, motivações. Mas no caso de MMN, ocorre mais do que isto, uma forte pressão de grupo. Ou produz ou cai fora. Caso os resultados demorem a aparecer, é dito que precisa tempo para maturar, ou é porque não fez tudo o que deve ser feito. O problema estaria na pessoa, nunca no sistema. Quando na realidade, como vimos acima, há fundamento falho no sistema: Demanda limitada, equipe ilimitada.

Ocorrem pressões psicológicas induzindo a investir mais e mais (não só produto), num mercado desconhecido. Faz-se tudo para manter o entusiasmo pelo máximo de tempo, sugar e por fim descartar.

Quanto mais falha o participante, mais precisa de motivação, e o desfecho vai sendo adiado com os prejuízos aumentando. Assume risco, sem se dar conta deste detalhe estrutural do negócio. No final, prejuízos financeiros e psicológicos, a frustração. O resultado são acima  90%  de perdedores.

Daí também se sustenta um esquema comercial paralelo, na sombra. Vendem seminários motivacionais, utilizam PNL, CD’s, vídeos, livros etc.  Quanto mais os participantes sentem dificuldade, mais são instigados a gastarem nestes itens, e redobrarem esforços. Algo exagerado em relação ao que muitas empresas ofertam a funcionários.


IV – Valores éticos.

Cultura materialista e exploratória: De modo geral os prospectos são levados a expressar seus sonhos em bens materiais, com ênfase ao consumismo. Há apelo aos instintos. Assim desperta a ganância, que por sua vez embota o raciocínio e bom senso.

MMN cresce explorando as relações das pessoas, visando ganhos. Diferente de divulgação boca a boca espontânea. Tornam-se alvos de recrutamento familiares, parentes, amigos, ex-colegas de aula, de trabalho, etc. e depois utilizam os relacionamentos destes por sua vez, em sucessivos níveis.

Parentes e amigos de longa data passam a ser prospectos, a vizinhança agora é  mercado. Cria-se um clima por vezes desagradável, e que costuma polarizar posições em torno do assunto. Isto porque, no processo ao qual é submetido, o entusiasmado novato é alertado sobre “ladrões de sonhos”, aqueles que percebem algo de errado, dos quais começa a se afastar. Chega até na radicalização a perder amigos. Talvez conheça outros novos em função do negócio  Novas amizades que ao final poderão ser instáveis, como o negócio é.

Em resumo:

1 – Sistemas de marketing de múltiplos níveis, marketing de rede, são falhas na estrutura. Recrutam forças de vendas em demasia, que por sua vez tentam recrutar mais, ao infinito. Isto gera desequilíbrio, pois toda demanda é limitada.

2 – Para muitos o real atrativo é o velado esquema piramidal, disfarçado com produtos ou serviços.

3 – As concessões éticas para ser bem sucedido, são uma dificuldade.

4 – Amigos e familiares deveriam ser tratados como tal e não como alvos de exploração.

Interessante ler aqui: sobre capitalismo carismático, tecnicas de persuasão em cultos e organizações, um caso específico.

Outra abordagem crítica, bem contundente, neste link.

Acrescentando:

Existem empresas que são repudiáveis devido à exploração infantil, outras por causarem danos ao meio ambiente. E estas outras ainda, que nada disto praticam, mas induzem pessoas a assumirem riscos, sabendo que a probabilidade maior é a de resultarem em prejuízos a estas pessoas?

É isto!


quinta-feira, 28 de junho de 2012

Árvores de família: Genealógica e Genética.


Um complemento ao que escrevi sob o título “Grande Família”,
e o blog sobre famílias Ruschel e Heberle.

Obtive o principal link sobre o assunto, em grupo de genealogia (SC e RS) no Facebook.

Temos duas árvores de família, a genealógica e a genética.

Qual a diferença entre uma árvore genealógica e uma arvore genética?

A distinção é que a árvore genealógica abrange todos os ancestrais, e a árvore genética somente os ancestrais que realmente legaram DNA para você.

A genealógica torna-se interessante na medida em que é a história da família, mais do que simplesmente uma relação de nomes e datas relativas aos ancestrais. E o parentesco pode ser indicativo de tradições culturais. Assim, alguém poderá ter influenciado descendentes em usos e costumes. Isto, ainda que não seja seu ancestral genético, e sim apenas genealógico.

A genética indica mais as características físicas e biológicas transmitidas de geração em geração, incluindo distúrbios de saúde. Já são obteníveis mapeamentos sobre ancestralidade genética.

Quantos ancestrais compartilham nosso DNA?

Um indivíduo, de forma aleatória pode não deixar nenhum DNA a um descendente longínquo (como a um tataraneto). E, por isto não aparecer na árvore genética do descendente, embora seja seu ancestral genealógico.

A dez gerações pode haver aproximadamente 1024 ancestrais por parentesco.
Quantos destes ancestrais fazem parte da nossa árvore genética?
Considerando a chance de 50% de obter de cada um dos pares, teríamos no máximo 46  ancestrais genéticos (igual nossos pares de cromossomos). Isto é subestimar, pois o DNA não é passado como um cromossomo inteiro. Ocorrem recombinações, o que estanca perdas e permite que haja mais de 46 ancestrais contribuindo para nosso DNA.

Estudos foram efetuados com simulações, levando em conta recombinações. Após dez gerações, apenas 12% dos ancestrais genealógicos seriam tambem ancestrais genéticos. A probabilidade de todos os ancestrais genealógicos serem tambem ancestrais genéticos diminui rapidamente a cada geração. São 99.6% de serem 16 trisavós, todos.  54% os 32 tetravós. E somente 0,01% todos os 64 penta avós. Apenas cinco gerações de parentes são suficientes para redução da sua árvore de DNA, em relação à árvore genealógica.

O número de ancestrais genéticos inicia crescendo exponencialmente, depois tende a se estabilizar em torno de 125. Na décima geração com o máximo de 1024 ancestrais genealógicos, 120 são os ancestrais genéticos.

Finalmente, há um dado interessante relativo às recombinações genéticas. Devido a estas, somos geneticamente, em média ligeiramente mais aparentados com a linha materna. Na décima geração, 14% à linha materna (mãe, avó da mãe, etc.) e 11% à linha paterna (pai, avo do pai, etc.).

São dados interessantes a considerar ao estabelecer objetivos de pesquisas sobre famílias e parentescos, seja em genealogia, seja em mapeamentos genéticos.

domingo, 17 de junho de 2012

Alem de cangurus e orquídeas silvestres!


Como há muitos brasileiros estudando e trabalhando mundo afora - em maior número nos Estados Unidos, na Europa e também Austrália, dos quais muitos acabam adotando nova pátria - é interessante observar certas peculiaridades culturais nos diversos países.

Mantive contatos com Greg Heberle, que reside em Perth, Western Austrália, quando enviei alguns dados e fotos para edição de seu livro Heberle Family (editado em 2005). A partir daí tive crescente interesse por assuntos relacionados também à Austrália.

Constatei, a partir deste livro e o site de Greg na internet (ao final da página do link, há sobre orquídeas e seus endereços), que há na flora australiana três orquídeas silvestres nomeadas segundo os pais de Greg.

Ronald Leslie Heberle e esposa as pesquisavam exaustivamente. Entre estas de sua descoberta, a orquídea Diuris heberlei - portanto relacionadas ao nosso sobrenome.

Greg tambem publicou materiais sobre suas pesquisas relativas a cangurus que estariam extintos, mas não o estão totalmente. Pensando em contrastes e semelhanças com o Brasil, fui ver que marsupiais no Brasil só há em espécie pequena.

Este meu interesse por particularidades culturais, teve recentemente um impulso adicional. Isto devido a ter conhecidos nos Estados Unidos e também na Europa, incluindo familiares. Quanto à Austrália soma-se ao já mencionado acima sobre o livro e orquídeas, uma série de circunstancias e coincidências. Relacionadas estas ao reencontro de pessoa do convívio na infância e adolescência, nunca mais vista há mais de quarenta anos – e com seus descendentes morando na Austrália.

Prestando mais atenção, no caso da Austrália, percebemos que há simbolismos que vão muito alem dos tangíveis cangurus. Outros símbolos, sutilezas e nuances culturais que implicam em conhecer até gírias, o linguajar e maneira de ser mais populares – enraizadas nas tradições australianas.

Assim há o Anzac e a música Waltzing Matilda.

Dia 25 de abril comemoram ação das forças armadas, Australian and New Zealand Army (ANZAC). Há um biscoito denominado Anzac, porque era levado pelos soldados como alimento durável e nutritivo. Há portanto um simbolismo. Este biscoito e seu simbolismo são compreensíveis facilmente pelo histórico e sua receita.

Waltzing Matilda,(vídeo) quase um hino nacional não oficial, super carregada de simbolismo, é de complexa apreensão dos significados de sua letra. Chamou-me atenção ao assistir vídeo onde um comentarista na Alemanha tentava explicar ao seu público.

Fui pesquisar, encontrando definições de várias palavras tipicamente australianas, cujo significado é necessário saber para conhecer o sentido da música. Podem ser vistas neste link, em inglês
Também neste, em português.

Fala-se de um andarilho. Carregava sua mochila, que afetivamente chamava Waltzing Matilda  (idiossincraticamente, denominam assim um tipo de mochila). Trabalhava aqui e acolá para os grandes fazendeiros. Preparava seu almoço e descansava à sombra de copiosa árvore típica da região (eucalipto de madeira dura, crescendo fácil ao longo de rios, lagos, açudes). Preparava suas refeições em panela de alça (por vezes improvisada com algum latão), suspensa, ou em fogo de chão – o que lembra hábitos gaúchos. Sempre acompanhado da sua mochila. Teria vindo um carneiro tomar água na panela colocada a ferver. Apanhou o carneiro colocou-a na mochila. Perseguido por forças policiais a serviço de grandes fazendeiros, que indagavam onde está o cordeiro que escondeste na mochila – pula na água, pratica suicídio no lago (braço de rio separado formando águas paradas) “não me pegarão vivo”. Próximo seu espírito continuaria vagando, se passar por lá poderá ouvir a cantar o refrão de Waltzing Matilda.

Seria um lamento ao suicídio de um vagabundo. Mas é uma expressão contra autoritarismo, e, espírito de independência. Certamente uma homenagem aos que contribuíram e contribuem com seu trabalho no engrandecimento da Austrália.

Entre estes, migrantes brasileiros, que por sua vez, aos poucos vão incorporando ao mosaico de tradições dos súditos da Rainha - muitos deles que acabam ficando, e descendentes - hábitos brasileiros, a exemplo do chimarrão.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Estudante, em 1964

Em 1964, fui de certa forma, duplamente vítima das circunstâncias.

Desde dezembro de 1962 trabalhava em meu primeiro emprego formal, em Novo Hamburgo, RS.


Em março de 1964, sob o governo de João Goulart, o salário mínimo dobrou de valor. E, os preços acompanharam ou até se anteciparam nestes 100% de aumento.

Minha situação pessoal já estava crítica. Perspectivas sombrias em relação aos estudos, devido aos altos custos de mensalidades, mais gastos com minha manutenção. E, guardava as angústias, que foram se acumulando.

A frustração chegou ao limite, com a questão financeira como estopim. Enquanto os custos aumentaram 100%, meus ganhos subiram apenas 22%. Teria que aguardar até setembro para uma nova melhoria.

Havia estímulos da empresa, como uso liberado de motocicleta, por exemplo.Mas os empresários também se viam em apuros.

Conversando com alguem sobre a situação, talvez tivesse amenizado os sentimentos de frustração. Ou vislumbrado alguma alternativa.

O fato é que de uma hora para outra, sucumbi aos impulsos do inconsciente. Aconteceu uma ruptura psicológica no sentido de fuga da situação. Deveria ser algo temporário, para retomada da normalidade em nova situação, fosse qual fosse. Um momento em que o pensamento era unicamente abandonar, sem medir consequências e nem lembrar de como familiares poderiam ser afetados. Algo como acontece com quem fica meio cego, quando fica muito enfurecido e parte para cima de alguem. Porem, uma fuga psicológica diversa das que levam ao alcoolismo ou drogas, por exemplo.

Simplesmente embarquei num ônibus, e desapareci do ambiente habitual. Isto foi no último dia de junho. Passei a ser procurado, sob as mais diversas hipóteses do que poderia ter acontecido.

Já no segundo dia pensava em retornar, pois o propósito de romper a situação estava cumprido. Mas fiquei como que paralisado, na idéia de como seria sufocante me reapresentar. Na inércia, simplesmente fui prosseguindo em viagem.

Alguns dias após, estava longe do Sul. Cheguei a Salvador, na Bahia, dia 07 de julho.

Parei, e refleti bastante. Seria urgente retornar, ou de pelo menos me comunicar. E tambem decidir sobre o que fazer daí para frente.

Tive então a idéia de procurar um apoio para o retorno. Algo que facilitasse as comunicações. E que fosse algum tipo de intermediação que pudesse aliviar a tensão que imaginava acontecer em simplesmente me reapresentar aos familiares e conhecidos.E se possível, alguma orientação psicológica. Como poderia reparar ou amenizar a dor sentida pelos pais? Como explicar e pedir perdão?

Ironicamente, a partir de então, tornei-me vítima das circunstâncias mais uma vez, mas em outra situação.

A rigor, por ingenuidade.

Fui procurar auxílio da polícia interestadual, Polinter.

Atendido, me encaminharam a um gabinete da Secretaria da Segurança, lá em Salvador.Logo mais, percebi que as circunstâncias me eram adversas. Simplesmente pelo momento que o Brasil inteiro vivenciava naqueles meses imediatamente pós Revolução.

Ora, estavamos na época vivendo um regime de exceção, com a Revolução ainda se consolidando, em plena caça aos chamados subversivos, tais como participantes nos G-11, ou grupo dos onze. Seria eu algum destes, erguendo bandeira branca? Talvez portador de valiosas informações?

Já de saida, me apontaram um canto com um verdadeiro arsenal de armas, dizendo que eram fruto de apreensões. Uma clara insinuação.Pronto. Ficou evidente que, se lá no sul investigavam meu desaparecimento, na Bahia passei a ser um suspeito de envolvimento com algum movimento clandestino.

Minha explicação sobre a razão de apenas estar pedindo ajuda, e sobre as motivações de estar na cidade, não foi convincente. De qualquer forma, seria inusitada mesmo, mas plausível em condições normais da vida política no país.

Então, de um problema de ordem psicológica, que seria passageiro, passei a um trauma até pior.

Ainda bem que fui tratado civilizadamente.

A seguir me convidaram a embarcar num veículo, de forma normal.Como rodaram por alguns quilometros, comecei realmente a ficar temeroso, pois não sabia exatamente o destino. O deslocamento seria para uma outra repartição.

Fiquei muito surpreso quando estacionaram defronte à Casa de Detenção. E mais ainda, quando em seguida me declararam detido, para investigações. Na verdade, não recordo bem sobre estes detalhes, tal foi o choque.

O fato é que permaneci lá, por terríveis 44 dias.

Ainda bem que fui colocado em cela privilegiada, junto a duas pessoas de bom nível de instrução. Um estudante de economia, tido como subversivo. O outro, um fazendeiro de cacau acusado de ser mandante dum assassinato devido a desentendimentos por heranças.

A pior parte, era a alimentação. Dias e dias, a base de pirão de peixe seco.

Visitas, só a de investigador.

O que amenizava, eram as conversas - até de bom nível - com o estudante e o fazendeiro, e a biblioteca. Com tanto tempo disponível, não pareciam ser de muitas páginas, obras de Rousseau e Schumpeter, por exemplo.

Finalmente fui liberado, e em meados de agosto cheguei de volta ao Sul.

Fui recebido em Novo Hamburgo pela amiga de nossa família, Dona Emília, a viúva do Dr. Wolfram Metzler (que foi Deputado Federal entre outras, durante sua vasta atuação pública. Veja biografia à página 44).

Ela ofereceu confortável cama em sua residência. Recuperado do enfraquecimento, procedi a alguns exames de saúde, inclusive eletroencefalograma, com resultados de absoluta normalidade.

Então, retomei as atividades habituais, mudando para Porto Alegre.

Mas, o ano escolar estava comprometido. Tivesse me conformado antes e trancada a matrícula, teria sido doloroso, mas bem menos. Nada daquilo que foi relatado teria acontecido.

Em tudo o que aconteceu, houve de minha parte imaturidade, descuidos e ingenuidade.

Aprendi bastante. Principalmente a de manter sempre a esperança de dias melhores.

Sai fortificado, porque quase sempre posso dizer frente a eventuais contrariedades: O pior já passou! Ou, já passei por algo pior!

Em horas mais difíceis, até ser curioso passa a ser uma vantagem. Pois a gente faz questão de se manter vivo, querendo saber como será o amanhã. Qual a saida encontrada, e por ai vai. Tambem é vantajoso ser otimista. Acreditar que a saida será interessante, com solução adequada.

Na época eliminei o que pudesse trazer lembranças ruins. Mas conservei algumas cartas que recebi bem depois. Esta que reproduzo em parte aqui, serve para mostrar que investigavam sobre minha eventual ligação aos que eram considerados subversivos. Fomos colocados juntos, certamente por equiparação.

(Clique para ampliar)

Felizmente, foi tudo superado!
.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A grande família

Considero a genealogia, um passatempo valioso.

De tempos em tempos, faço alguma pesquisa sobre nossos ancestrais.

Isto motiva manter-me mentalmente ativo, e serve de pretexto para estudar história, geografia, idiomas e assim por diante.

Um aspecto que chama atenção é a herança genética. Os nomes numa árvore genealógica representam as cotas de genes que herdamos. Na medida em que mais nomes de família são acrescentados na linha ascendente, mais se dilui a identidade. A origem dos genes vai se subdividindo em cotas cada vez menores. Da mesma forma, se diluirá na descendência.

Temos 2 pais, 4 avós, 8 bisavós, e até 16 trisavós, 32 tetravós, e assim em progressão 64, 128, 256, 512, e teríamos 1.024 ancestrais já na décima geração, teoricamente.
Com 20 gerações, seriam 1.048.576 ancestrais. Mas, na realidade não!

Serão menos do que nesta progressão de “n” na potência de 2, porque em várias linhagens aparecerão os mesmos nomes.

Por exemplo, se dos 4 avós de fulano, 2 forem primos entre si, fulano terá em suas linhagens apenas 28 sobrenomes de trisavós, ao invés dos teóricos 32.

Imagine que cada um de nós tenha 30 trisavós. É fácil perceber que as linhagens dos ancestrais não podem abranger quantidade de nomes na mencionada progressão. Ora, já em cerca de 1850 não viviam sobre a terra 30 vezes mais pessoas. Pelo contrário, havia muito menos habitantes sobre a terra.

Dito de outra maneira, considerando 25 anos por geração, em mil anos serão 40 gerações. Assim, lá pelo ano 1000, na idade média, teríamos pelo mundo 1.099.511.627.776 parentes nossos! Resultado de 2 na potência 40. Como não existia esta população, significa que a maioria destes remotos ancestrais participa de nosso patrimônio genético, mais de uma vez, nos alcançando por múltiplas linhagens.

Nunca me aprofundei no assunto, mas talvez por isto tenhamos o que se convenciona chamar de memória coletiva, lembranças sobre locais, e coisas do gênero. E também, possamos ter herança genética mais acentuada de alguns ancestrais que apareceriam mais vezes em nossas linhagens, se fosse possível levantá-las de forma completa.

No imaginário, faço analogia entre cérebro e computador. Os genes seriam como arquivos. Receberíamos milhares de nossos ancestrais, herdando uma pasta. Forneceríamos por nossa vez, cópias de nossa pasta de arquivos para cada descendente. Como eles recebem cópia da pasta de arquivos tanto do pai como da mãe, e assim sucessivamente nas gerações vindouras, nossas cópias estariam incluidas nas pastas de cada um de nossos descendentes. E é claro, haveria sempre atualizações, um continuo aperfeiçoamento e inovações. Mas muitos conhecimentos permaneceriam válidos no mundo atual.

Não sei como poderíamos acessar e abrir tais arquivos. Ou, se afloram e se abrem sob determinadas circunstâncias. Sempre especulava sobre esta possibilidade. Tem a ver com inconsciente coletivo, memória genética ou ancestral.

Estava fechando o tópico, quando resolvi pesquisar sobre se há alguma coisa mais específica sobre o assunto. Encontrei, e aprendi um pouco sobre a tal síndrome Savant.

Síndrome Savant é uma condição na qual existem enormes capacidades relacionadas à memória em indivíduos com severas limitações mentais. Seja para matemática, música, artes ou outras.
Relacionados a intuições congênitas, quando não precisa estudar mas sabe.

Há os casos de gênios precoces. Haveria uma terceira memória, alem da cognitiva/semantica e de procedimentos/hábitos. Uma memória genética. Transmissão genética do próprio conhecimento, como se fossem chips. No mundo animal isto existe, especialmente entre insetos. Aranhas não aprendem a tecer teias, o fazem automáticamente.

Achei interessante que realmente existem estudos em andamento sobre isto. E há opiniões de que todos temos memória genética ou ancestral. O que se pesquisa é de como tirar proveito disso, sem precisar passar por algum trauma craniano ou coisas do gênero, que às vezes desencadeiam processos parecidos.

Já pensou nisto?

Complemento:

A memória coletiva social é distinta, transmitida de geração em geração.

Ilustrando a memória genética ou ancestral, poderia dizer que caso encontrasse hoje javalis, "lembraria" a melhor forma de defesa, ou de como caçar um deles. Talvez subiria numa árvore instintivamente.

Mas, alem destes conhecimentos que tem pouca utilidade nos dias de hoje, há conhecimentos de utilidade permanente como saber que 2 x 2 = 4.

Faz sentido, talvez haja esta memória genética, e assim como volta e meia surge aquele "estalo" na solução de problemas, haja meios de incrementar nossa inteligência.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Famílias

1 - As famílias tendem a ser menos numerosas.

Cada vez mais casais optam por menos filhos, ou são obrigados a isto como na China.

Isto implica em algumas situações cada vez mais comuns.

Por exemplo, na extinção de parentescos colaterais.

Haverá cada vez menos tios(as), sobrinhos(as), e primos(as).

Pense num filho único, de pai e mãe que ambos já sejam tambem filhos únicos. Ele não terá tios, tias, sobrinhos (as), como não tem irmão(ã), nem primos(as) a qualquer grau.

Imagine um "encontro de família". Talvez estejam vivos ele, a mãe, e a avó.

Pelo menos nenhuma mulher "ficará para titia".

E parentes "indesejáveis" não haverá.

2 - Encontros de famílias.

É comum a formação de comunidades relativas a sobrenomes. As adesões então acontecem em função de alguem ter o mesmo sobrenome.

Já os encontros de famílias tendem a ser mais amplas, mais inclusivas.

Nestes, o apelo é no sentido de reunir os descendentes de um determinado casal, geralmente de imigrantes. São abrangidos então os mais diversos sobrenomes.

Como temos muitos ancestrais, dos quais talvez conheçamos vários sobrenomes dos 4 avós, 8 bisavós, e assim por diante, poderíamos participar de muitos encontros. Eu, por exemplo, já poderia participar em mais de 30 destes encontros. Passamos então a ser seletivos quanto a condições e maior ou menor afinidade com cada raiz de origem.

Encontrar parentes sempre desperta curiosidade, pois costumam ser referência sobre caracteríticas herdadas em comum de algum antepassado, por exemplo.

Estes encontros de família, um costume bastante cultivado entre descendentes de alemães, são bem interessantes.

Lembrando o animado clima que costuma reinar nestes encontros, pensei sobre como esta tendência de haver menos filhos por casal, ou até filhos únicos, afetariam estas festas.

Num caso extremo, um encontro de no máximo 3 pessoas!

Por isto, aproveitemos quando for possível encontrar primos,
pois estão em extinção!

domingo, 29 de novembro de 2009

Cartas, já escreveu, já recebeu?





Hoje, com as facilidades de comunicação é diferente.

Mas há uns cinquenta anos, cartas eram significativas e multi-funcionais.

Imagine, por exemplo, o que seria da carta testamento de Getúlio Vargas, por ocasião do suicídio.








Houvesse na época os recursos disponíveis hoje, teria ele usado câmara, estaria tudo logo circulando no Youtube?


(clique em cima, para ampliar)

Exemplificando com meu próprio caso, era relativamente raro escrever cartas.
Mas, tive um período em que o fazia, e elas tinha várias funções, alem da comunicação pura e simples.

Havia as afetivas, dos pais e namoradas ou amigas.




















Entre outras cartas que recebia, algumas massageavam o coração, outras o ego.

Também, como autodidata e dificuldades em fazer cursos pela escassez de recursos e distâncias, utilizava cartas como estímulo ao estudo.


Já tentou escrever textos em lingua estrangeira? É complicado.

Antes, é necessário que haja bastante leitura.



Eu já escrevi, especialmente em ingles, e até hoje não sei o quanto os destinatários se divertiram com meus erros de expressão. Mas, funcionou.





Fui aperfeiçoando, e as respostas pelo menos vinham bem certinhas e cordiais!








Cartas tambem eram o meio de se inserir nas chamadas redes sociais.

































Os ciclos das postagens e retornos eram bem mais lentos do que a rapidez de hoje, por exemplo com o Orkut, Facebook e tantas outras.

Outra espécie de cartas era as das que continham alguma bronca, e as das reconciliações.




































Hoje, está mais fácil e rápido, ao invés de cartas há as câmeras e microfones!

Estão dispensados os trabalhosos arquivamentos de papeis. Mas há um risco, daqui a cinquenta anos (já não estarei aqui ...), talvez tenham que contentar-se com a mensagem:

"Error"
"Sorry, file not found"!